sexta-feira, 24 de junho de 2016

SONETOS MODERNOS

Raphael Godoy é um poeta  da novíssima geração Monlevadense. Seu primeiro livro “Escritos Esparsos” foi um mix de sentimentos e impressões sobre o mundo. O segundo que vai ser lançado no 1º Festival de Inverno de João Monlevade,  vem de uma interessante experiência de sonetos diários publicados no blog “Um soneto por dia”. Raphael ousa brincar com um gênero popular em tempos passados, mas com novo enfoque, utilizando cadência, ritmo ,poder de concisão, mas com uma perspectiva pop,  sem o rigor estético dos sonetos tradicionais. Mas vamos à entrevista ...

O que te motivou a ser poeta? Quando é que você se descobriu poeta?
Acho que já nasci poeta, lembro que desde pequeno fui das letras. Foi mais ou menos com 10 anos que comecei a escrever. Escrevia sobre tudo e sobre todos, e já ensaiava alguns versos para as meninas da sala, mas não funcionava muito bem (risos). Desde então, esta fase de escrever vem e volta, às vezes ficava um tempo sem escrever, mas isto parecia me fazer mal e voltava a escrever de novo.  Mas, só assumi esta veia poética este ano. Antes me intitulava escritor, mas, hoje, me considero mais poeta.
Você lançou um livro que li e gostei bastante, o “ESCRITOS ESPARSOS”. Quais feedbacks obteve?
O Escritos foi um projeto bem experimental, uma coletânea de textos e poemas que escrevi ao longo de quatro, cinco anos, mais ou menos e de repente viraram livro. Eu gostei do feedback de algumas pessoas. É legal quando você escreve uma coisa e alguém fala para você: “É exatamente assim que me sinto”. Este tipo de reação é o que motiva continuar escrevendo, pois se sua arte não toca as pessoas de alguma forma, ela não se justifica.
Você tem fetiche com o objeto livro ou se dá bem no ambiente virtual? Acha que a internet tá matando o romance?
Eu prefiro ler no papel, sentir a folha, e ter o prazer de ao final fechar o livro e voltar com ele para a estante. Mas, a internet é uma excelente vitrine e nos dá um par de possibilidades para tudo. Não acho que a internet esteja matando o romance, a internet é uma ferramenta apenas, um revólver não mata, quem mata é quem atira. A própria sociedade tem matado o romance. A procura pelo imediatismo, o prazer pelo prazer, querer se mostrar feliz o tempo todo... como haverá de ter espaço para o romance? Rejeita-se todo sentimento que incomoda e o substitui por alguma coisa qualquer. Antes, quando sentia-se para baixo o indivíduo procurava conversar com alguém, falar de seus sentimentos, hoje tira-se uma selfie e depois fica contando as curtidas para se sentir melhor. Mas, o sentimento ainda está lá, ferindo, machucando e poucos sabem lidar com isto.
Muitos dos seus sonetos pintam cenários, tem personagens exuberantes (principalmente mulheres), contam histórias nem sempre politicamente corretas. O Raphael poeta briga muito com o Raphael pessoa?
A gente já brigou mais, mas recentemente temos andado bem um com o outro. Quando se escreve e, principalmente quando se escreve poesia, a gente se expõe muito. Por mais que eu me aproveite de histórias, verdades e sentimentos de outras pessoas, quem lê, acredita que aquele é o sentimento do Raphael e não daquele personagem inventado para escrever aquele soneto. Então, chega uma altura que eu tive que escolher, ou eu escrevia para agradar a mim e  as pessoas que comungam dos mesmos valores e histórias que eu, ou escrevia para tocar cada vez mais pessoas. Eu escolhi a segunda opção.
Já as mulheres, são uma inspiração a parte. Mas, não tem como não ser. Hoje há tanto debate sobre feminismo, sobre o papel da mulher na sociedade, que se esquece que elas são o ser mais incrível que Deus fez. Imagine você sendo Adão, com tantos animais maravilhosos, paisagens naturais indescritíveis e então Deus faz a mulher e lhe entrega. Qual foi a sua reação? A de Adão foi dizer apenas uma frase: “Esta, sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne”. Imagino que nesta hora Deus criou também a poesia, a música, o prazer. Havia ali, reverência, respeito, admiração, um amor inacreditável que a colocava como igual, como parte dele. E hoje, o que vemos é o que mais de abominável há no homem que é a violência contra a mulher, seja física, verbal ou emocional e esquece-se do principal que é esta primeira emoção, esta sensação de que ainda bem que Deus fez a mulher. E meus sonetos falam muito disto. Do poder feminino e do encanto que as mais diferentes belezas causam em nós homens.
Porque você escolheu os sonetos?
Eu escolhi os sonetos por acreditar que eles sejam uma tradução dos tempos atuais. Onde tudo tem que ser muito rápido, imediato. Conto estórias em sonetos que poderiam ser desenroladas em crônicas, contos e até romances, mas confiro eles a velocidade dos nossos dias. Não dá nem tempo de se apaixonar por um personagem e o desfecho da estória já está no verso seguinte. Além desta familiaridade com o que temos vivido, o soneto é um desafio para quem o escreve, 14 versos são muito pouco, então precisamos escolher bem as palavras, colocar ritmo e sentido em cada uma delas para que o resultado fique bom.
Você além de escritor é um profissional de marketing. Até onde a lente do marketing acrescenta à sua poesia?
Tenho uma linha que o Marketing deve ter como foco principal a satisfação do cliente para criar uma rede de promotores cada vez mais consistente e garantir a sustentabilidade do negócio, e levo isto para o meu negócio de Literatura. Procuro entregar textos que sejam relevantes e de maneira que eu agrade as pessoas e elas digam a seus amigos: Olha que legal isto. E a internet viabiliza muito esta criação de rede de promotores. Hoje minha página no facebook possui mais de 2.500 fãs, dos quais não devo conhecer 5%. Ainda é pouco se comparado ao universo de pessoas que estão nas redes sociais, mas, já é um passo.
Esse livro que você vai lançar, vem sendo escrito religiosamente, todos os dias da semana no blog “Um Soneto Por Dia”. Tive oportunidade de ler vários sonetos, muitos deles inspiradíssimos. Como é que surgiu essa ideia de livro interagindo com  blog, um alimentando o outro?
A ideia do blog "Um Soneto Por Dia" surgiu no final do mês de janeiro, quando encontrei alguns sonetos que havia escrito e não havia publicado e me desafiei a fazer um soneto por dia,. Passados alguns dias, tinha material para um mês de postagem, e então comecei a publicar e a escrever todo dia, pelo menos, um soneto. Tem dia que não sai nada de bom, mas tem dia que consigo dois muito bons. 
Hoje já são quase 150 textos e não tenho pretensão de parar. Já o livro, surgiu de uma conversa com a Carla Lisboa, que inclusive me ajudou com o lançamento do primeiro Livro, sobre o festival de inverno. Conversávamos sobre a programação e veio um estalo, porque não aproveitar o festival e lançar uma edição especial com os 100 primeiros dias do blog? Fizemos algumas pesquisas, ela montou a arte da capa do livro e quando fui ver já estava enviando o material para a gráfica, tudo em menos de uma semana. Devido ao custo da produção dos livros, optei por fazer uma edição limitada em uma editora especializada em pequenas edições, com os 100 primeiros.

O que vai ter no lançamento que vai acontecer durante o 1º FESTIVAL DE INVERNO DE JOÃO MONLEVADE?
Estamos definindo os detalhes ainda, mas falarei um pouco do processo de criação dos sonetos, teremos algumas leituras e meu irmão, Thales Godoy, está transformando alguns destes sonetos em músicas e ao final do evento teremos a sessão de autógrafos. Os exemplares poderão ser adquiridos no dia do lançamento, em outros eventos que participarei e pela minha página no facebook.

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