MEDIOPIRA - Como você busca se atualizar sobre música e literatura?
Confesso que eu não sou um leitor assíduo e isso me atormenta. Mas
também não encontrei ainda a paz que eu preciso para me reservar tempo
suficiente para me tornar leitor inclusive o que me interessa. Sobre música,
posso dizer que estou certo e satisfeito com o que eu gosto e já não me
interesso por nada novo.
MEDIOPIRA - A poesia na letra de música caiu em desuso?
Acho sinceramente que pensar caiu em desuso artisticamente falando.
Coisas singelas como a poesia inclusive na música não tem mais espaço no mundo
que eu vivo. Não quero que me leve a mal nem pense que me desiludi
completamente mas a realidade é que forçamos uma barra para ter espaço e ser
ouvido mas o objetivo sempre foi ganhar dinheiro para sobreviver e com isso a
gente acaba deixando pouco espaço para o emocional. Quando viajo a procura de
novos horizontes, eu viso uma estabilidade financeira em algum lugar bom para
viver e faria qualquer trabalho digno para me manter. Acho que perdi a
esperança de me realizar com a música que faço. Hoje só quero desfrutar das
memórias que tenho e do bem que a música me fez mas não tenho mais ilusões...
minha música não tem espaço, eu é que forço a barra!
MEDIOPIRA - Você viajou pelo mundo inteiro. Como foi a
receptividade do público para com a sua música?
Acho que com a globalização todos têm acesso a tudo a todo momento, em
qualquer lugar. Então para mim as fronteiras dos países já não definem mais o
perfil de seu público. Existe sim aquela parcela específica que gosta de música
boa e respeita ou não você aqui ou em qualquer outro lugar.
MEDIOPIRA - Para que países vc viajou fazendo música e qual
foi a reação dos públicos?
Morei em alguns países da Europa e USA e voltei para o Brasil. É
decepcionante ter que admitir que lá pensem que somos exóticos e talvez
inferiores e pior ainda é imaginar que possam se interessar por causa disso. É
bom viver no seu país, com sua gente, seu idioma, seu clima... Eu não me deI
bem lá não. Tudo é muito disputado e concorrido e se leva uma vida dura... Pode
crer
MEDIOPIRA - E no Brasil? Como tem sido a receptividade do
público?
Rômulo com os Afilhados do Sereno |
MEDIOPIRA - Como é
viver de música no Brasil?
Viver de música no Brasil é definitivamente melhor do que em qualquer
lugar. Aqui compramos casa e andamos de carro com o dinheiro de música, na
Europa e Estados Unidos você passa fome!
MEDIOPIRA - Você hoje em dia faz shows praticamente de
covers. Desistiu das autorais?
Ninguém quer ouvir músicas inéditas!
As pessoas saem de casa para ouvir o que conhecem para cantar junto e
desabafar. Eu continuo compondo mas não acho razoável aproveitar da preferência
do público para impor minhas canções.
MEDIOPIRA - Não falta shows em teatro? O Público dos bares
tem paciência pra curtir um show conceitual, mais trabalhado poética e
musicalmente?
Com os companheiros do samba |
Eu prefiro definir o meu perfil como
profissional e proponho ser avaliado e ou entendido como versátil. Deixo
guardado o Rômulo Ras que se adaptaria a shows em teatros, etc e levo para os
bares o Rômulo Ras que o público de bares quer ouvir. Não exalto nem diminuo
nem um nem outro. Não há mais espaço para sonhos impossíveis!
MEDIOPIRA - Como Monlevade tem tratado seus artistas?
Companheiros das artes |
MEDIOPIRA - Em que cidades do Medio piracicaba você sente
mais interesse e atenção na hora dos shows por parte da platéia ?
Sempre bem acompanhado |
MEDIOPIRA - O que pensa da internet como mídia? Acha que
favorece ou atrapalha a música boa?
Para mim a internet democratizou e trouxe espaço e justiça para
músicos independentes como eu. Só vejo vantagens e posso assegurar que se não
fosse a internet quase tudo estaria esquecido e ocultado.
Olha, paralelo a música que faço em bares e em festas particulares,
tenho uma vontade imensa de conseguir ainda gravar e registrar o que restou da
nossa música municipal e regional. Saber que tantos talentos vão passar
despercebidos ou não gravados é um crime. Muitos se foram sem nenhum registro e
eu tenho esse sonho de fazer por esses o que não fizeram por outros. Também
penso em reunir em um livro minha biografia cheia de história e estórias...
MEDIOPIRA - Deixe contatos e mensagem para os artistas
mediopiranos...
Eu sei que a música assim como qualquer outra arte ou toda profissão
acaba sendo um meio de ganhar a vida, viver com o mínimo de conforto e
segurança. Ninguém quer cantar nem pode, com a corda no pescoço mas não
exponha-se ao ridículo de ser o que você não é, só porque um ou dois falam que
você é bom no que faz. Agradar um grupo alcoolizado no fim de noite não te
credencia a ser um cantor capaz de conduzir uma noite do início ao fim com
qualidade, profissionalismo e emoção. Então não pense que eu cheguei aos 37
anos de carreira vivendo único exclusivamente de música fazendo zoeira e
agradando "turminha". Respeite os ouvidos dos outros e crie o seu
estilo ao invés de copiar tudo que passa na televisão ou toque no rádio.