sexta-feira, 2 de junho de 2017

RÔMULO NOBREZA RÁS


Rômulo Rás é um dos grandes artistas da nossa região, um sujeito arrojado que colocou a viola nas costas e saiu pelo mundo mostrando a arte brasileira, mineira e da região. Com cara, coragem e apetite de desbravador, virou descobridor de novas paisagens e semeador de nosso tempero. Mas ele gosta mesmo é do Brasil, onde adapta seus shows para qualquer formato e leva a todos o fino da mpb. Aliás, tenho uma lembrança de um show do Romulo num Festival de Música em Alvinópolis. Na época era a MPB que tocava nas rádios e o Romulo fazia muito sucesso. Ele muitas vezes só começava as músicas e a galera cantava junto. Rômulo é um dos artistas mais lúcidos e combativos que conheço e tem se revelado também um cronista inspirado, portador de verdades e desencantos confessos. Com ele retomamos a nossa série de entrevistas com os artistas iluminados do médio piracicaba.

MEDIOPIRA - Como você busca se atualizar sobre música e literatura?

Confesso que eu não sou um leitor assíduo e isso me atormenta. Mas também não encontrei ainda a paz que eu preciso para me reservar tempo suficiente para me tornar leitor inclusive o que me interessa. Sobre música, posso dizer que estou certo e satisfeito com o que eu gosto e já não me interesso por nada novo.

MEDIOPIRA - A poesia na letra de música caiu em desuso?

Acho sinceramente que pensar caiu em desuso artisticamente falando. Coisas singelas como a poesia inclusive na música não tem mais espaço no mundo que eu vivo. Não quero que me leve a mal nem pense que me desiludi completamente mas a realidade é que forçamos uma barra para ter espaço e ser ouvido mas o objetivo sempre foi ganhar dinheiro para sobreviver e com isso a gente acaba deixando pouco espaço para o emocional. Quando viajo a procura de novos horizontes, eu viso uma estabilidade financeira em algum lugar bom para viver e faria qualquer trabalho digno para me manter. Acho que perdi a esperança de me realizar com a música que faço. Hoje só quero desfrutar das memórias que tenho e do bem que a música me fez mas não tenho mais ilusões... minha música não tem espaço, eu é que forço a barra!

MEDIOPIRA - Você viajou pelo mundo inteiro. Como foi a receptividade do público para com a sua música?

Acho que com a globalização todos têm acesso a tudo a todo momento, em qualquer lugar. Então para mim as fronteiras dos países já não definem mais o perfil de seu público. Existe sim aquela parcela específica que gosta de música boa e respeita ou não você aqui ou em qualquer outro lugar.

MEDIOPIRA - Para que países vc viajou fazendo música e qual foi a reação dos públicos?

Morei em alguns países da Europa e USA e voltei para o Brasil. É decepcionante ter que admitir que lá pensem que somos exóticos e talvez inferiores e pior ainda é imaginar que possam se interessar por causa disso. É bom viver no seu país, com sua gente, seu idioma, seu clima... Eu não me deI bem lá não. Tudo é muito disputado e concorrido e se leva uma vida dura... Pode crer

MEDIOPIRA - E no Brasil? Como tem sido a receptividade do público?

Rômulo com os Afilhados do Sereno
Eu amo o Brasil! Se não fosse as injustiças e a bagunça causada pelos políticos eu jamais sairia daqui. Mas como eu disse: a música que eu faço perdeu o espaço e eu compreendo e é só mesmo forçando a barra para sobreviver...

MEDIOPIRA -  Como é viver de música no Brasil?

Viver de música no Brasil é definitivamente melhor do que em qualquer lugar. Aqui compramos casa e andamos de carro com o dinheiro de música, na Europa e Estados Unidos você passa fome!

MEDIOPIRA - Você hoje em dia faz shows praticamente de covers.  Desistiu das autorais?

Ninguém quer ouvir músicas inéditas! As pessoas saem de casa para ouvir o que conhecem para cantar junto e desabafar. Eu continuo compondo mas não acho razoável aproveitar da preferência do público para impor minhas canções.

MEDIOPIRA - Não falta shows em teatro? O Público dos bares tem paciência pra curtir um show conceitual, mais trabalhado poética e musicalmente?

Com os companheiros do samba
Eu prefiro definir o meu perfil como profissional e proponho ser avaliado e ou entendido como versátil. Deixo guardado o Rômulo Ras que se adaptaria a shows em teatros, etc e levo para os bares o Rômulo Ras que o público de bares quer ouvir. Não exalto nem diminuo nem um nem outro. Não há mais espaço para sonhos impossíveis!
MEDIOPIRA - Como Monlevade tem tratado seus artistas?

Companheiros das artes
João Monlevade? Esquece! As pessoas são boas mas isso aqui é um tumulo de sensibilidade! Usam a cultura para fazer política e não a política para fazer cultura!

MEDIOPIRA - Em que cidades do Medio piracicaba você sente mais interesse e atenção na hora dos shows por parte da platéia ?

Sempre bem acompanhado
Em todas as cidades sou muito bem recebido, afinal fiz minha carreira em todas elas. Eu não posso reclamar do público, em geral são muito respeitosos e até carinhosos comigo. Acho que os conquistei com a minha invariável música fiel.

MEDIOPIRA - O que pensa da internet como mídia? Acha que favorece ou atrapalha a música boa?

Para mim a internet democratizou e trouxe espaço e justiça para músicos independentes como eu. Só vejo vantagens e posso assegurar que se não fosse a internet quase tudo estaria esquecido e ocultado.

MEDIOPIRA - Qual o seu grande sonho no momento? Tem projetos na gaveta?

Olha, paralelo a música que faço em bares e em festas particulares, tenho uma vontade imensa de conseguir ainda gravar e registrar o que restou da nossa música municipal e regional. Saber que tantos talentos vão passar despercebidos ou não gravados é um crime. Muitos se foram sem nenhum registro e eu tenho esse sonho de fazer por esses o que não fizeram por outros. Também penso em reunir em um livro minha biografia cheia de história e estórias...

MEDIOPIRA - Deixe contatos e mensagem para os artistas mediopiranos...

Eu sei que a música assim como qualquer outra arte ou toda profissão acaba sendo um meio de ganhar a vida, viver com o mínimo de conforto e segurança. Ninguém quer cantar nem pode, com a corda no pescoço mas não exponha-se ao ridículo de ser o que você não é, só porque um ou dois falam que você é bom no que faz. Agradar um grupo alcoolizado no fim de noite não te credencia a ser um cantor capaz de conduzir uma noite do início ao fim com qualidade, profissionalismo e emoção. Então não pense que eu cheguei aos 37 anos de carreira vivendo único exclusivamente de música fazendo zoeira e agradando "turminha". Respeite os ouvidos dos outros e crie o seu estilo ao invés de copiar tudo que passa na televisão ou toque no rádio. 
romulo.ras@hotmail.com 31-997 968 951.