MEDIOPIRA –Você desde sempre
esteve conectada aos movimentos artísticos e culturais de Monlevade. Como foi o
seu despertar para esse olhar? Quais foram suas influências?
Lutécia - Minha mãe era poetisa, piadista,
pintora, artesã, cantora e, desde menina, acompanhava os ensaios que aconteciam
em minha casa, na Monlevade dos Anos Dourados, quando ela cantava acompanhada
por um Regional, em festas, jantares e acontecimentos sociais, e nos ensaios do
Coral Monlevade, na década de 70. Além disso, ela abria a nossa casa para
vários músicos, como Eustáquio Ambrósio, Weber Costa, Severino Miguel,
Vilminha, que se reuniam ora para ensaiar, ora para transformar a nossa vida
numa constante festa. E era.
MEDIOPIRA – Sua paixão pela
fotografia é recente? Você é contemporânea dos processos produtivos analógicos,
de revelar fotografias, das técnicas clássicas ou totalmente digital?
Lutécia - Sempre fui uma amante
das imagens, dos reflexos e até das sombras que são projetadas por corpos em
movimento. A fotografia veio para “materializar” o meu olhar, quando ganhei,
aos 16 anos de idade, uma Kodak, daquela de filmes de cartucho. Fotografava
pouco, por causa do custo das revelações, e ainda tenho muitos filmes a serem
revelados, perdidos em muitos guardados. Mas quando as máquinas digitais se
popularizaram, no início desse Milênio, comecei a fotografar quase que
diariamente e, de alguns anos pra cá, compulsivamente. Posso dizer que sou
formada por quatro partes: cabeça, tronco, membros e câmera fotográfica.
MEDIOPIRA – Vejo que em sua
fotografia tem um lado muito forte de capturar paisagens. Nesse tipo de enfoque a fotógrafa torna-se
quase uma poetisa visual, uma caçadora de acasos revelando a alma das coisas.
Você se sente um pouco poetisa também quando fotografa?
Lutécia - Troquei os meus poemas
caligrafados no passado, pelos fotografados na atualidade, rsrsrsrs. Meu olhar,
naturalmente, enquadra tudo o que vejo, e vejo que estamos cercados de belezas
que passam despercebidas para a
maioria das pessoas, ocupadas demais, preocupadas demais em como viver e até sobreviver
nesse mundo de tantas mazelas. No instante em que fotografo paisagens, ou
pássaros e aves, que são os meus motivos preferidos, sinto que aquele belo e
único momento precisa ser mostrado, admirado, e as redes sociais são a melhor ferramenta
para compartilha-lo com todos. Não comercializo fotos e raramente as imprimo.
Elas são feitas pelo puro prazer de registrar e distribuir toda a beleza que o
Universo nos presenteia a cada dia, a todos que eu puder alcançar.
MEDIOPIRA – Na sua fotografia tem
um lado forte também de jornalismo cultural. A sua cobertura de eventos era
marcante, independente, quase onipresente. Parece que você diminuiu bastante
essa presença nos últimos tempos. Por que?
Lutécia - Porque os eventos
culturais também diminuíram, tornando-se quase uma raridade. De um lado, o
Poder Público, que nada realiza. Do outro, a iniciativa privada, que não
diversifica. Outro motivo é que precisei sair de Monlevade para dar
prosseguimento à minha carreira de bancária, cuja oportunidade de promoção veio
quando fui emprestada para a agência de Dom Silvério por um mês, e aqui estou
desde janeiro de 2013.
MEDIOPIRA – Você sempre foi uma
roqueira fanática, quase torcedora (rs). Como avalia a atual situação do rock?
Acha que rock virou música para coroas ou que a coroa continuará sendo do rock
como estilo mais popular do planeta?
Lutécia - O Rock sempre terá o
seu espaço e tenho percebido que nos últimos dois, três anos, tem tido presença
garantida e concorrida no cenário musical brasileiro. A alma do rock é
inquieta, rebelde, revolucionária, e o Brasil tem oferecido muita
“matéria-prima” para o surgimento de novas composições e novas bandas
roqueiras, que aos poucos vem retomando o seu lugar no trono dos mais
apreciados estilos musicais por todo o mundo.
MEDIOPIRA – E em termos de ROCK
BRASIL? Tem visto alguma coisa digna de nota? Apontaria algum trabalho novo que
tenha te balançado?
Lutécia - Se dermos uma voltinha
pela internet, pelo YouTube por exemplo, veremos centenas de bandas
independentes de Rock, da melhor qualidade, em todos os cantos desse nosso
Brasil. Mas vou citar duas que me impressionaram: Carne Doce, uma banda goiana,
quase lírica e Amazon, de Valinhos-SP, que esteve no 1º Festival Marmotas em
Monlevade, em 2014. Fugindo um pouco do Rock, mas indo na sua origem, a que
mais curto na atualidade é Alexandre da Mata & The Black Dogs, de Belo
Horizonte.
MEDIOPIRA – E em João Monlevade?
Já houve um tempo de muita efervecência da cena roqueira. Vc conseguiria citar
algum trabalho em especial ou são os mesmos de sempre? E no Médio Piracicaba?
Citaria algum trabalho novo interessante?
Lutécia - Sou fã incondicional da
Derramasters, cujo trabalho autoral, em Monlevade, é insuperável, mas por força
de trabalho e estudo de seus integrantes, está em stand-by. A Dizarm também tem feito um trabalho autoral
bem interessante. Mas sem estímulo, sem apoio e sem palco, várias bandas surgem
do nada e desaparecem da mesma forma.
MEDIOPIRA – Há alguns anos a meninada quando chegava à adolescência queria tocar numa banda de rock ou
jogar num time de futebol. O que a galera nova quer hoje?
MEDIOPIRA – Você hoje vive entre
Monlevade e Dom Silvério. Como foi essa transição entre o movimento frenético
de Monlevade e a tranquilidade de DS?
Lutécia - Vivo muito bem
integrada a esses dois mundos. Em Dom Silvério, levo uma vida de trabalho e
enriqueço minha alma com as “saidinhas de banco” para a Área Rural, onde faço
minhas fotos. Em Monlevade, vida noturna, sempre onde tem boa música, não
necessariamente só Rock, e estar com a família, novos e velhos amigos e boas
companhias. Sou uma pessoa de fácil adaptação, acostumada na estrada desde
1978, quando saí de Monlevade para estudar em Porto Alegre, e nunca mais parei
de rodar por aí.
MEDIOPIRA – Existe um grande
pessimismo no meio cultural com relação ao futuro. Há uma percepção de que a
arte vem perdendo importância na lista de prioridade das pessoas. Como você
acha que a arte vai sobreviver nesse clima de “apocalipse now”?