sexta-feira, 3 de junho de 2016

MIKE SANTOS DE CASA FAZENDO MILAGRE

Há alguns anos atrás organizávamos um Festival da Música  quando recebemos uma inscrição que nos impactou positivamente. Primeiro pela letra instigante, depois pelo arranjo também de ótima qualidade. Nas pré-seleções sempre temos o hábito de ouvir todas as músicas sem saber os autores, até para não haver contaminação. Quando fui conferir de quem era aquele música li pela primeira vez o nome MIKE SANTOS. Fiquei mais surpreso ao perceber que o compositor era de Rio Piracicaba e que havia gravado aquela música em seu home studio. Santa tecnologia, Batman! Mas o Mike é muito mais que isso. Também é editor, videomaker, pioneiro no modo colaborativo de produção, um sujeito extremamente antenado que faz milagres com as novas tecnologias. Mas vamos à entrevista. 
1 – Como foi o seu despertar pra música?
Aconteceu em casa mesmo, minha mãe é musicista, e na época dava aulas de teclado e violão em casa, eu estava sempre "de olho", e aos 6 anos, ela percebeu que eu já estava tocando alguma coisinha por conta própria, e decidiu me ensinar.
2 – O que você ouvia na sua infância?
Durante a infância eu era um pouco mais “fechado” musicalmente ouvia muito Chico Buarque, Caetano, Gilberto Gil, Clube da Esquina, Legião Urbana, Angra, Piano Clássico (por estar aprendendo), Don Ross, Pink Floyd, Dream Theater, Steve Vai, Joe Satriani, e do pessoal mais próximo eu ouvia República dos Anjos, Aggeu Marques e Concreto, e tudo o que minha mãe cantava, minha maior influência.
3 – Você começou a aprender música em Rio Piracicaba mesmo ou em outra cidade?
Sim, em Rio Piracicaba, cidade de grandes músicos, haviam várias bandas e uma corporação musical na época, várias boas influências, e sempre uma boa movimentação cultural, o que a tornou um bom berço pra vários músicos que como eu, tem suas bases em Rio Piracicaba.
4 – Como foi a sua iniciação musical? Você continua estudando?
O início foi no teclado, aos seis anos, tendo como professora minha própria mãe Fátima, alguns meses depois, comecei a me aventurar pelo violão também, e assim foi sistematicamente por toda a minha infância, tínhamos dias de estudo de teoria, dias de solfejo, dias em que ela solfejava para que eu “tirasse” as músicas de ouvido, e nesse meio tempo, fui me aventurando por outros instrumentos.
Nos apresentávamos muito como Família Santos, no extinto Clube da AFERP em Rio Piracicaba, em casamentos, festas particulares, na tradicional Festa de Bom Jesus, e me recordo que aos nove anos minha mãe decidiu “parar” de tocar profissionalmente, a partir desse momento eu assumi a parte instrumental da família, responsabilidade que me forçou a buscar sempre melhorar como músico apesar da pouca idade na época.
Hoje continuo estudando, em virtude de uma parceria com a Ibanez, estou mais concentrado nas guitarras, mas nem por isso deixei os outros instrumentos de lado. A partir de junho desse ano, terei alguns vídeos periódicos, no meu canal e no canal da Ibanez com interpretações de obras dos grandes da guitarra, entre eles Steve Vai, Joe Satriani, Kiko Loureiro (que está representando o Brasil muito bem no Megadeth), Eric Johnson, entre outros.

5 – É músico de partitura ou só de ouvido?
Faço uso de ambos, no dia a dia toco “de ouvido”, mas para estudar a partitura é uma ótima ferramenta, e acelera muito o processo de aprendizado de novas músicas, treinos, escalas etc. Fora o uso para gravações também, onde se torna possível tocar “cravado” sem a necessidade de ensaios.
6 – Quais as suas principais influências?
Hoje apesar de grande parte do que eu escutava eu continuar ouvindo, os horizontes se abriram mais, Chico Buarque, Renato Russo, Humberto Gessinger, Johnny Alf, Rafael Bittencourt, Djavan e Marcelo Camelo são boas referências no Brasil em relação às letras e harmonias. De fora Pink Floyd, Dream Theater, Peter Frampton, Little Tybee, Symphony X, Frank Zappa, Kansas, Cristopher Cross, entre muitos outros, o que se reflete em parte do que eu componho.

7 – Rio Piracicaba já o inspirou musicalmente?
Sim, sem dúvida, mesmo porque é a cidade onde eu passei grande parte da minha vida, logo as lembranças, influências, estão sempre presentes, e além de tudo, é um lugar onde tenho segurança e tranquilidade pra perder umas boas noites de sono entre composições e arranjos.
8 – O que mais o inspira a compor?
Acho que os temas mais comuns são cotidiano, conjuntos de ideias e valores, e o amor, que vem a muitos séculos inspirando compositores e poetas. Temas comuns entre a maioria dos compositores, tem umas “viagens” também, como algumas músicas que foram feitas depois de sonhos, outras após boas conversas ou discussões sobre a vida, “o crítico da sociedade” que foi feita numa noite em que eu avistei uma estrela cadente (vejo todos os dias...), “polaroid” que é sobre uma câmera que já imprime as emoções, e “e quando eu te vejo” que traz a formula consagrada das boas e velhas canções de amor.
9 – Dá pra arriscar a fazer show 100% autoral?
Dá sim, claro, inclusive é um sonho antigo, que vamos trazer à realidade assim que possível, mesmo que seja em um ambiente mais intimista, é uma meta ainda para o ano de 2016.
10 – Você além de compositor também é produtor e grava suas próprias canções. Conte um pouco dessa história pra gente. Você grava tudo em seu homestudio?
Martino, tudo começou quando resolvi fazer uma “demo”, assim como todo mundo. Por falta de dinheiro resolvi fazer um processo caseiro, fui lendo sobre os softwares, o processo, e com muita ajuda, de vários amigos, comprei uma placa de som de dois canais, e me surpreendi com os resultados, eu vi que era possível chegar a um produto satisfatório sem “entrar em estúdio grande”, e com isso eu continuei aprendendo, e correndo atrás para enriquecer esse processo.
O primeiro CD demorou cinco anos para ficar pronto, várias pistas foram gravadas e regravadas diversas vezes, nesse meio tempo passei por uns três softwares, e umas quatro interfaces de áudio, e em 2014, surgiu uma possibilidade de uma parceria com a Sony, foi então que eu me “estabeleci” em uma DAW (programa de gravação), plug-ins e processo, tudo fornecido por eles.
A partir daí foi tudo muito rápido, refiz parte das gravações, usei grande parte do material que já tinha gravado, alguns lá da primeira placa de som ligada a um notebook CCE, tive muita ajuda dos técnicos da Sony e no fim cheguei ao áudio que eu queria ouvir no início do processo.
A masterização foi feita por eles, de forma analógica na Inglaterra, e eu gostei bastante do resultado. O fruto dessa caminhada foi o cd Sublime Sentido, disponível no Itunes, Play Store, Spotify, SoundCloud e todas as outras plataformas do mercado.
Hoje gravo grande parte de tudo em casa mesmo, no meu homestudio, só as gravações realmente grandes, como pianos, coro de cordas, e baterias que costumo fazer fora, geralmente em estúdios parceiros da Sony, mas mantenho o processo o mais “em casa” possível. Acredito muito nessa iniciativa de produção em pequenos estúdios, levando em consideração que hoje houve uma democratização dessas ferramentas e desse conhecimento.

11 – O que você acha do panorama musical contemporâneo. Acha que com a internet melhorou ou piorou a vida do artista?
Acho que melhorou demais, no meu caso por exemplo, sem a internet eu não conseguiria as ferramentas necessárias para gravações, não teria como aprender o processo, além disso estudo muito pela internet, sou da época dos songbooks, e vejo o quanto o guitar pró o cifra clube e o 911 tabs democratizam e organizam esse conhecimento que está muito mais acessível hoje do que era nos anos noventa, quando comecei a tocar.
Outro aspecto interessante é que a internet mudou as formas de consumo e produção musical e cultural. Na minha época a pirataria por exemplo, era através de fitas e Cd’s gravados, hoje ela está a apenas alguns clicks, isso obrigou a indústria a mudar a forma como vende, cobra e distribui seus produtos, mudando inclusive a renda principal dos artistas, que antes estava vinculada à venda das suas obras, Cds, material licenciado, e hoje tem seu foco maior nos shows. Eu tive a sorte de ser “descoberto” pela Sony através da internet, vendo meu disco, divulgo os shows, agendo shows, mantenho contato com o público através da internet, então a considero uma ferramenta indispensável para todos os artistas atualmente, independente da fase da sua carreira.

12 – Você se apresenta na maioria dos espaços culturais do Médio Piracicaba. Como é o tratamento desses espaços para com os artistas? Respeitoso? Justo? E os equipamentos de som. São adequados?
Sou sempre muito bem recebido aqui na região, o que é motivo de muita alegria para mim. As casas, restaurantes e bares e contratantes são sempre muito atenciosos no trato e no planejamento das apresentações. De certa forma ainda há uma supervalorização do artista de fora, e em certos casos isso é usado como argumento em comparativos de preços, equipamentos, etc, mas acho que é algo que vamos desconstruir com o tempo, e com trabalho de qualidade, à altura dos artistas de fora, de dentro, de onde forem. 
As vezes há um certo “choro” em relação ao preço, mas em geral, é sempre possível chegar a um valor justo para ambas as partes, levando em consideração o tamanho da casa, o lucro previsto, e outros fatores. Afinal, há grandes shows para grandes contratantes, e grandes shows em pequenas casas, então, de certa forma, o músico tem que se adaptar, sem abrir mão da qualidade, e do valor justo, afinal, vivemos disso.
Em relação aos equipamentos, já tive diversas experiências ruins com isso, mas todas serviram para meu crescimento como profissional, e a solução que eu vi com o passar do tempo, foi levar uma boa parte do mínimo para uma apresentação de qualidade, como microfones, amplificadores, prés, transmissores, e fazer um input list versátil e acessível aos contratantes da região.

13 – E o público? Tem um comportamento respeitoso e interativo com o artista? Ainda pintam aqueles sujeitos que gritam “ Toca Raul” depois de cada música?
Tem sim, já são sagrados os pedidos, geralmente em apresentações menores, sou 100% levado pelo público do dia, que em certas ocasiões esta mais MPB, em outras mais Rock, assim vamos variando o repertório também, e nos aventurando em diversos estilos. Valorizo muito essa proximidade que o público tem ao pedir, sugerir músicas, e interagir comigo durante as apresentações.
“Toca Raul” continua sendo um mantra na noite, mas ultimamente de forma mais controlada, ainda escuto umas duas vezes por show, mas sempre toco com prazer os sucessos do grande Raul Seixas.

14 – O que significa Rio Piracicaba na sua vida. Santo de Casa faz milagre em RP?
Rio Piracicaba sempre será minha cidade do coração, cidade tranquila que teve e tem grande influência no meu desenvolvimento como músico e compositor.
Percebo pelo carinho dos Rio Piracicabenses que Santo de Casa faz sim milagres por lá, mas ao mesmo tempo, é difícil focar mais na cidade, visto que hoje em dia, há pouco espaço para apresentações, e como o músico vive de show, me sinto um pouco “fora de casa”, por me apresentar poucas vezes no ano em minha cidade natal, mas espero que com o tempo esse cenário mude, e “o santo possa ficar mais em casa” também.
15 – Deixa seus contatos – endereços eletrônicos – mídias sociais – youtube- etc...
www.mikesantos.com.br