sexta-feira, 1 de abril de 2016

CARLA CULTURA LISBOA

O MEDIO PIRA é um espaço novo, coluna publicada no Jornal BOM DIA, que vai trazer a cada semana entrevistas com personalidades da arte e cultura do Médio Piracicaba. E Já começamos entrevistando uma das pessoas que mais movimenta a cena artística de João Monlevade: a onipresente CARLA LISBOA, uma produtora que merece todos os aplausos e reconhecimentos. Tenho até dificuldades em defini-la. Multi-tarefas? Camaleoa? Tudo e mais um pouco! Carla é atriz, produtora, militante da área cultural, mega gentil no trato, trabalha em silêncio, parece até oriental de tão zen, pau pra toda obra, sensível para as causas artísticas, tem uma super vontade de ajudar os artistas  a botar o pé na profissão, é co-fundadora do Coletivo 7 faces, que promove diversos festivais de música e cultura...e inventa uma enorme quantidade de eventos com pouquíssima verba, mas com grande qualidade. E o principal: abrindo vitrines para a nova arte produzida na região e em todo o Brasil. Não sei se a turma local concorda, mas em minha opinião ninguém e nenhuma instituição movimentam mais a cena local do que ela e a turma do 7 faces. Mas vamos à entrevista...

MEDIOPIRA: Carla Lisboa. O que te move a abraçar a arte e cultura com tanta força?

AMOR. Parece simples, mas infelizmente são raríssimas as pessoas que realmente colocam PAIXÃO no que fazem, digo isso não apenas na área cultural. E se tratando de cultura especificamente, que é tão pouco valorizada principalmente em nossa região, se não amar o que faz, você não vai muito longe. A arte pra mim é como um órgão vital, como o coração, aliás, como o pulmão, sem ela eu não conseguiria nem respirar.

MEDIOPIRA: Quando foi que você percebeu que a arte seria a sua?

Acho que sempre fez parte. Quando criança, preferia ficar no quarto lendo um livro a sair pra brincar. Sempre gostei de escrever, de inventar histórias.... comecei com o teatro ainda adolescente, pra “curar a timidez”. Fiz alguns cursos livres e oficinas de teatro, até ir para o Galpão, em BH. O trabalho como produtora surgiu um tempo depois, em 2008, e desde então, tive a certeza de que era o que eu queria fazer pra vida toda.

MEDIOPIRA: Você se considera mais atriz ou mais produtora cultural?

É difícil responder. Apesar do trabalho como produtora ser mais intenso, o teatro é minha grande paixão, sinto falta de atuar, de estar nos palcos. Mas não me imagino sendo apenas atriz, ou somente produtora. Acho que sou todas em uma só.

MEDIOPIRA: Como você avalia o público consumidor de arte na região? Tem espaço por exemplo pra música que não seja a popularesca consumida pela massa?

Sempre que se fala em arte aqui na região, costumo ouvir em coro: Ah, aqui o público só gosta de sertanejo. Só consome evento de massa. A primeira ação do Coletivo 7faces foi o Grito Rock, em 2013, e muita gente apostou que não passaríamos da segunda edição; bom, esse ano já estamos indo pra quarta. A música sempre foi nosso “carro chefe”, mas esse ano estamos reformulando o coletivo, vamos focar mais na literatura e no teatro, mas claro, mantendo os festivais de música que já realizamos. Iniciamos essa mudança com o Sarau das 7faces, que é um evento mensal, e a cada edição o público vem aumentando. Acho que funciona como a lei da oferta x demanda. O público consome o que é oferecido. Tem espaço pra todos.

MEDIOPIRA: Como é que funciona a 7 faces?

Na raça! (risos). Somos uma equipe pequena. Temos muitos colaboradores, mas a equipe “fixa” do coletivo é formada por 3 ou 4 pessoas, de áreas totalmente diferentes, mas todos ativistas culturais. Apesar de ser a gestora e estar à frente do coletivo, não decido nada sozinha, não temos hierarquia, tudo que fazemos é decidido em grupo.

MEDIOPIRA: Como você avalia o cenário da arte em Monlevade hoje em dia?

Nossa cidade é muito rica culturalmente, temos muitos artistas tanto na música, quanto no teatro, na dança, literatura, artes plásticas... e muitos talentos escondidos. O que falta ainda é apoio e espaço para esses artistas mostrarem seus trabalhos. Falo de apoio de um modo geral, principalmente do público.

MEDIOPIRA: Creio que tenha sido enriquecedor pra você integrar uma instituição pública, no caso a Fundação Casa de Cultura de Monlevade.  Valeu à pena?

Estive na Fundação Casa de Cultura por 14 meses, e foi uma experiência bem enriquecedora pra mim. Valeu a pena com certeza, toda experiência é válida. Aprendi muito no tempo em que estive lá.

MEDIOPIRA: Como tem sido a relação com as empresas locais? Elas tem reconhecido o trabalho de vocês patrocinando os eventos? E o poder público?

Não trabalhamos apenas com valor monetário. O coletivo trabalha com a economia solidária e criativa. Em todos os eventos que realizamos, contabilizamos como moeda todo tipo de apoio, seja financeiro, mão-de-obra, divulgação, etc. E tanto das empresas privadas quanto do poder público, esse reconhecimento infelizmente nunca ultrapassou 10% de nossos custos.

MEDIOPIRA: Quais você considera as principais deficiências da cena artística da região?

Bom, não vou falar das deficiências num contexto geral, já que são tantas. Vou falar da minha realidade, aliás, da realidade do coletivo. Trabalhamos com a cena independente e autoral, principalmente na música, e a maior deficiência que temos, e muitos músicos da região também reclamam comigo, é da falta de um espaço para que esses artistas possam mostrar seu trabalho. Não temos espaço para a cena autoral. E em João Monlevade ainda é pior: além da falta de espaço pra cena autoral, artistas locais ainda são poucos valorizados. E o Coletivo 7faces surgiu para suprir essa carência, dar espaço e valorizar a cena autoral, e provar que santo de casa faz sim milagres.

MEDIOPIRA: E as principais qualidades?

A região é muito rica culturalmente. Temos oferta pra todos os gostos e públicos. E aqui na cidade o que tenho percebido também, é que o público tem participado mais ativamente dos eventos culturais. Há um ano atrás, citei em uma entrevista que nosso maior desafio era a formação de público, hoje já penso diferente.

MEDIOPIRA: O que você planeja para um futuro próximo? Quais os próximos eventos do 7faces e planos da Carla Lisboa?

O 7faces tem um calendário fixo, e também já estamos em processo de certificação do coletivo como um Ponto de Cultura na cidade. Além do Grito Rock e do Festival Marmotas que este ano chegam à 4ª edição, faremos também o 1º Festival de Inverno de João Monlevade, entre os dias 18 a 25 de junho. E tem também o Sarau que realizamos mensalmente, na Praça do Coreto.

Esse ano quero me dedicar mais ao teatro. Iniciei esse mês as oficinas de teatro pela Cia Os Issos, onde iremos preparar um espetáculo para comemorar os 400 anos de William Shakespeare. E a partir de abril, também pela Cia Os Issos, faremos audição para bailarinos, com a proposta de montagem de um musical intitulado “Quadros”, em homenagem ao músico, compositor, diretor e ator Oswaldo Montenegro, que é uma das minhas principais influências no teatro, e também da Cia Os Issos.