O Mediopira dessa semana conversou com Daniel Bahia. Daniel é guitarrista, violonista, empreendedor, filósofo nas horas vagas, professor, difusor, incentivador. Vários oficios cabem nesse camaleão monlevadense, que transborda ideias e projetos. Mas vamos à entrevista...
MEDIOPIRA - O que você ouvia em sua
infância? O que tocava no rádio ou radiola da sua casa?
DANIEL BAHIA - Tenho na memória um presente
que meu pai me deu, um “compacto” do Queen e do Michael Jackson (que continha
duas faixas de cada lado). Sem sombras
de dúvidas foi uma influência marcante na minha trajetória pessoal, e claro artística.
Essas duas referências estavam no auge – isso por volta de 1985 -, e adorava as
performances de ambas, assim tal como a sonoridade expressiva. Sempre
tive o ímpeto – atitude que está atrelado com curiosidade – de buscar coisas
novas para ouvir. Isso de certa forma, foi fundamental para minha formação. E como
todo adolescente da minha geração, o Rock Brasil foi uma influência máxima.
Todas aquelas bandas como: Legião Urbana, Barão Vermelho, Cazuza, Titãs,
Paralamas do Sucesso, enfim, fizeram partes da minha escuta. Teve um episódio
marcante, que foi um show do Barão Vermelho – logo após quando o Cazuza sai da
banda e o Frejat assumiu os vocais – que meu pai me levou para assistir. Foi
ali que tudo começou. Aquele lance do rockstar me conquistou e eu segui em
frente.Claro, que na minha casa tocava um pouco de tudo do “bom gosto”. Meu pai
ouvia muita música brasileira, e fui assim me formando.Mais tarde, me enveredei
pela música clássica e jazz, que foram sábias descobertas que até hoje
considero máximas no quesito de criatividade musical.
MEDIOPIRA - E o que o influenciou a
ingressar na carreira musical? Como você começou? Com um violãozinho?
DANIEL
BAHIA -Lá por volta dos 13 anos, meu pai comprou um violão para minha mãe
aprender. Ela fez aulas, e até começou bem, só que com o tempo desistiu. E já
naquela onda de gostar muito de música, foi um pulo. Comecei minhas primeiras
lições e a coisa foi ficando séria. Só para ter ideia, comecei a lecionar com
16 anos. Daí pra frente vieram muitas coisas.
MEDIOPIRA - E depois em sua trajetória você
tocou em diversas bandas. Consegue lembrar os nomes das bandas e projetos de
que participou?
DANIEL
BAHIA - Minha primeira banda foi o Curto Circuito. Ensaiávamos no minúsculo
porão da casa do Fábio Sartori, que era o baterista e posteriormente foi membro
do Calk. Participei de inúmeras bandas. ORatTomago
foi primeira que me levou para fora da cidade. Fizemos vários shows, e foi uma
experiência fundamental. A banda tinha vocal feminino da Juliana Hosken e
fazíamos colagens musicais. Era maior barato, inédito para uma banda de
interior. Toquei guitarra na Big Band FUNCEC, que foi uma escola – onde tive
contato com excelentes músicos, como o grande Maestro cubano Nestor Lombida. A
carreira foi se desenvolvendo, e vieram projetos como: Relicário (que teve duas fases, uma com
João Roberto e depois com Claudinei Godoi), sou membro fundador da Dizarm,
criamos o Umbigo (Rock instrumental psicodélico) , 2Jazz (jazz com pitadas de
eletrônico), Stone Free (Jimi Hendrix Tribute), Só pra Variar (Tributo ao Raul
Seixas), Mutantes Molhados, tive um duo de música brasileira com a clarinetista
Vivian Fernandes, que foi minha colega de faculdade, além de show com diversos
artistas da região. Toquei com um Hermano mui
gente boa, o argentino Alejandro Yaques. Por fim, deve ter mais coisas que não
me recordo. Atualmente estou pesquisando algo na área do instrumental, se Deus
dará, nos próximostempos teremos coisas novas, tudo muito sem pressa.
MEDIOPIRA - Você, além de tocar uma
guitarra inventiva, também é compositor de mão cheia.De que é feita a sua
música? Que elementos utiliza para criar?
DANIEL
BAHIA - Toco vários instrumentos de corda, mas, meu braço direito é o violão de
nylon. E não é à toa que me graduei em Violão na Universidade Federal de Ouro
Preto. A música brota na minha mente de forma espontânea, e tem coisas que não
tem explicação, por exemplo: a gênese criatividade. Isso são coisas natas e de
vivências, só que ninguém sabe de onde vem. Gosto de ficar testando harmonias
(explicando para os leigos: Harmonia é a denominação para o conjunto de acordes
que se entrelaçam entre si), e que quando surge um caminho interessante
registro em algum lugar; pode em ser na partitura, áudio ou vídeo. Depois vem a
labuta da melodia até chegar ao arranjo final. Música é uma questão espiritual.
O poder da natureza é tal que, toda a arte se esforça para ser. Quanto mais
podemos entrar em sintonia em harmonia com o planeta, mais a nossa arte pode se
beneficiar dessa relação. A música nos atinge de uma maneira muito emocional,
para mim, isso me elevou de uma forma que nada mais poderia. Só tem um tremendo
poder, o fato de fazer isso com os olhos
fechados. Mas o objetivo criativo em fazer música é o mesmo como, uma
tempestade ou apenas a maneira como as ondas atingem a praia, há uma perfeição
que nós tentamos aproximar, que é o objetivo. Quanto mais você entende o silêncio
da alma, mais equilibrado musicalmente ficamos.
MEDIOPIRA - Eu já te falei que considero o
UMBIGO como um dos melhores trabalhos que ouvi, nível internacional, sem
limites linguísticos. Projetos de descongelar o Umbigo?
DANIEL
BAHIA -O Umbigo foi um projeto de criação coletiva, onde eu, Fábio Sartori e o
André Freitas fizemos várias sessões de improvisos e surgiram os temas. Agora,
quanto a volta aos shows é bem difícil. Não temos mais a disponibilidade para
tais encontros.
MEDIOPIRA
- E sobre a safra musical. Tem ouvido
coisas novas?
DANIEL
BAHIA - Fico vendo um monte de nostálgicos dizendo que a safra musical está
indo mal.Digo o contrário, tem muitas coisas novas e interessantes no mercado.
Basta abrir a mente para as novidades. Estou ouvindo SnarkyPuppy, Vulpeck,
Castelo Branco, entre outros sons.
MEDIOPIRA - Você acha que o gosto musical do
pessoal hoje tá muito ruim ou tem espaço pra tudo?
DANIEL BAHIA
- A grande questão é que hoje a música é um meio de entretenimento, e os
desejos são outros. E muitas vezes baseadas em “memes”, o que torna a música
comercial em algo de espécie de “música comercial de zoação”. Mas, tem mercado
para todo mundo e basta você acreditar naquilo quer e que você alcançará. E a
forma de distribuição é quase que imediata, provavelmente, dando chance para
qualquer um que tenho uma estratégia de divulgar lançar seu produto. Querer que
todo mundo escuto que a gente gosta já é demais.
MEDIOPIRA - E onde vc busca música hoje? Em quais fontes bebe?
Indica alguns caminhos pro pessoal ouvir músicas legais?
DANIEL
BAHIA - Meus caminhos são exóticos. Há muito tempo estou quedado pela música
indiana, mais isso não é novidade. Vários músicos já fizeram essa imersão. A
dica é olhar para seu cotidiano, e sentir o que você quer ouvir e buscando onde
for preciso.
MEDIOPIRA
- Me fale sobre seu trabalho de educação musical. A galera continua procurando
aprender guitarra ou tá numa fase mais acústica de violão e viola?
DANIEL BAHIA - A carreira de educador é fascinante, está atrelada com a de empreendedor e professor/educador.
Estou na direção da Daniel Bahia Escola de Música, onde atua quase que em tempo
integral e coordeno um projeto de educação infantil. O projeto “Sete Pedrinhas
musicais” é fruto de uma parceira da Daniel Bahia Escola de Música e o Centro
Educacional Pequeno Polegar, cujo a professora regente é a Vivian Fernandes. O
projeto começou com o intuito de valorizar e trazer uma nova perspectiva para as
aulas de música, pois sabemos o quanto é importante a inserção desta nas fases
de aprendizagem.Acredito muito que o
ensino da música ajuda no desenvolvimento psicológico e afetivo, além de ser um
ótimo instrumento de socialização. Estamos no 4º ano de projeto, a ideia é expandir para outras cidades.
MEDIOPIRA - A
sua DANIEL BAHIA ESCOLA DE MÚSICA é uma
das mais respeitadas do Médio-Piracicaba. Qual o segredo dessa longevidade e
reconhecimento?
DANIEL BAHIA - Comecei muito cedo a empreender, e isso se tornou uma
paixão. Temos um legado importante no Médio Piracicaba quando se trata do
segmento Escola de Música. Formamos vários alunos e professores. A disciplina é
fator principalmente, e estar sempre antenado com a mudanças ésempre
preponderante. Gosto muito da frase do McCoy Tyner já dizia: "Para alcançar a liberdade, antes você
precisa passar pelo processo da disciplina."
MEDIOPIRA -Você
acha que a internet faz bem pra música ou diminui sua importância? A imagem não
roubou o lugar do som no imaginário das pessoas? E os direitos autorais na
internet? Acha justa a pirataria geral?
DANIEL BAHIA -A internet é importante para música. Olha o quão imediato
é o lançamento de uma música hoje em dia? Acho fantástico, a nova métrica que
são os views. Não tem aquele lance de
gravadora mandando o que tem que ser feito, é tudo muito direto. Agora, tudo
tem que ser usado com ponderação. Quanto aos direitos autorais, já existem
critérios para o recolhimento, se o artista tem sua carreira formalizada, claro
que tudo fica mais fácil para cercar contra o uso indevido. Sou a favor do
livre comercio da música.
MEDIOPIRA - Ultimamente,
tem sido sensível a queda dos públicos para os eventos considerados culturais,
enquanto os eventos “populares” atraem mega-multidões. Você vislumbra alguma
alternativa para reverter esse quadro?
DANIEL BAHIA - Vamos pegar uma
base partindo dos grandes; olha a abertura dos festivais e shows internacionais
na atualidade? A maioria tudo lotado. Volto a dizer que os tempos são outros e
temos que adaptar nossacrítica sem ficar com os pés no passado. A música pode
ser grande e séria, mas grandeza e seriedade não são suas características
definidoras. Ela também pode ser estúpida, vulgar e insana. Os artistas têm o
direito de expressar qualquer emoção, qualquer estado mental.
MEDIOPIRA - Quais
os projetos que estão na mira, que vc deve colocar na roda em breve?
DANIEL BAHIA
- Estou com desejo de gravar um álbum com músicas cantadas, mas, ainda não
tenho nada planejado. Vai ficar para posteridade.
MEDIOPIRA - Em
sua opinião, qual o futuro da música?
DANIEL BAHIA - Escrever sobre música é como dançar sobre a arquitetura.
A crítica musical é certamente uma ciência curiosa e dúbia, e o jargão do
futuro varia no inexpressivo. Toda forma de arte luta contra a armadilha de uma
descrição verbal. E não tem futuro definido. Passamos por diversas épocas, e o fator
decisivo sempre foi romper/transgredir com alguma temática do momento, seja
ela, política, religiosa ou estética. Resumindo, “A melhor música é a que nos
persuade de que não existe outra música no mundo” Alex Ross
MEDIOPIRA - Deixe seus contatos para quem quiser
contatá-lo, zap, face, insta, youtube e etc...
DANIEL BAHIA
- Para entrar em contato: danielbahiaoficial no Instagram, Daniel Bahia no Facebook
e Linkedin, e
9 8929 6613 WhatsApp.