Entrevista com Chico Franco, compositor, produtor cultural, ex-secretário de comunicação do município, pessoa de grande importância para a arte e cultura de João Monlevade e região. Além do mais, o sobrenome do Chico é mais que apropriado. Ele fala a verdade doa a quem doer. Mas vamos à entrevista.
1)–Você além de produtor cultural, foi um
dos grandes vencedores em Festivais de Música. Lembra-se de quantos prêmios
conquistou?
Primeiros lugares, 22 –
segundos e terceiros, 32.
2)–Você sempre andava com músicos muito
seletos, principalmente uma cantora de
voz imponente. Quais eram seus principais parceiros?
Eu tive como parceiros o
Viola (Geraldo Lessa) , posteriormente o João Rosa. Também meu filho Afonso
Henrique. A cantora era a Miriam Tavares.
3)–Você sempre foi um semeador de cultura, Inclusive
foi responsável pelo nascimento do Festival da Música em Alvinópolis, realizado
há 36 anos consecutivos. Como foi a história do surgimento do festival de
Alvinópolis?
Eu era muito amigo do Dico
Lavanca e do José Santana, que já era
deputado. Eu chegava de um festival em que eu havia vencido, estava até com o troféu nas mãos, quando encontrei com eles. Eles me perguntaram o que era, eu
respondi, conversamos sobre o assunto,
eles gostaram e pediram que eu realizasse um em Alvinópolis Fui
lá, detalhamos e realizamos junto com uma turma de formandos. Foi uma festa bonita em que saiu vencedora
uma turma de Sete Lagoas.
4)–Monlevade fazia festivais maravilhosos.
Teve uma primeira fase, sempre com Guido Walamiel no meio. Eu cheguei a
participar de um desses festivais no Grêmio. Você participava nessa época?
Participei de um em que
fiquei em segundo lugar com música defendida pela Neide Roberto.
5)–Depois você levou o FESTIVAL dos FESTIVAIS de Minas para
Monlevade. Como foi essa experiência?
Foi boa, apesar de ter apresentado meu protesto junto à
comissão da Turminas, promotora do evento, por ter colocado no júri um tal de Kiko Ferreira, um
analfabeto que se meteu a poeta naquela
época. A Turminas tinha interesse em
promovê-lo, mas eu estava tão certo que ele nunca mais apareceu. E meu
protesto foi antes de iniciar o festival. Mas valeu porque as músicas
vencedoras eram ótimas.
6) –Por que você acha que os Festivais
deixaram de ser realizados?
A música tomou um caminho
que foge totalmente ao valor artístico. Não há harmonia bem trabalhada, não há
a candura literária e até a questão
rítmica tem as suas implicações nos dias de hoje (a priori). A seleção de
cantores não existe mais. Basta ser
bonitinho, a exemplo das novelas.
7)-Nenhuma
modalidade de eventos abre mais vitrines para novos artistas, nem movimenta
tantos músicos. Um festival pequeno movimenta no mínimo 100 músicos, poetas e
compositores. O que fazer para que os festivais voltem a cair no gosto do povo
e para que as prefeituras e outras instituições passem a acreditar e a
investir?
É questão da qualidade. Ninguém vai a um festival para ver a música da
“metralhadora” e nem da eguinha
xopotó. Muito menos letras como
as da maioria dos Funks, que chegam a deprimir as mulheres. Prefeituras e nenhuma instituição patrocina
essas coisas.
8)–Qual a análise que você faz do público
consumidor de cultura hoje em dia?
Perdoe-me, mas eu não gosto da expressão “consumidor de
cultura”. Ela abre caminho para tornar o corriqueiro em cultura. E é justamente
o que vem acontecendo. Vivemos a época
das cavalgadas. Uma modalidade de entretenimento que tomou o nome de
cultura, mas que, nos Estados Unidos, teve fim há duzentos anos. Na era do
faroeste. O Brasil é mais novo do que os Estados Unidos somente
cinco anos. E festa, shows etc não é
cultura, É entretenimento. Cultura é outra coisa. Está impregnada na
pessoa que buscou, ao longo de suas
experiências, entender situações, Saber
o que é arte e o que não é. Entender que até o que comemos e vestimos são questões culturais. É justamente
por isto que a cultura é uma forma seletiva de pessoas.
9)–Como você avalia o futuro da música? Há
espaço para a poesia, para conteúdos mais profundos, para músicas mais elaboradas?
Como há! João Bosco e Chico Buarque lançaram há pouco
tempo a música Sinhá, que retrata o romance que se tornou novela por
umas quatro vezes. Ouça e veja que coisa
linda. P que não esta havendo é mercado,
que sucumbe à aquilo que não é cultura.
Por isto não há espaço. Mas o futuro, em
tudo neste mundo, é de quem sabe.
10)–Como você acha que o poder público
enxerga a arte e a cultura?
É cego. Enxerga o voto,
porque o voto dá o poder
11)–O que você acha da frase “cultura não dá
voto”. Será que tudo tem de gerar voto?
Para o político, na atual
conjuntura, é assim. Só o voto interessa.
A cultura que se dane. O saber que se dane. O futuro que se dane.
12–O que você diria para os prefeitos e
secretários de cultura sobre cultura? Ou não diria nada?
Nada, porque eles também não
entenderiam nada.
13)-Você continua compondo? Já pensou em
produzir e gravar suas músicas?
Parei. Nunca pensei em
gravar profissionalmente.
14)-Já pensou em escrever um livro – seja de
ficção ou romance – passando um pouco das experiências e pensamentos para quem
está chegando?
Nunca havia pensado.
Ultimamente estou escrevendo um sobre minha
família, desde as origens, portuguesa, espanhola, e eu, particularmente
que carrego também sangue de francês.
15)–Que conselhos você daria aos artistas de
hoje? Popularesco ou arte pela arte?
Arte pela arte.
Popularesco já temos muito que figuram ai
em duplas, que estão todos os dias nas telas da televisão, que
atormentam nossos ouvidos nos carros de som, enfim, precisamos é de novos Grande Otelo, Paulo Autran, Bibi Ferreira,
Tom Jobim e outros tantos para purificarem esses ares que estamos respirando
ultimamente.
16)–João Monlevade está completando 52 anos.
O que você deseja ou projeta para a jovem cidade?
Meus votos são para que o nosso povo deixe de
votar em politicos profissionais, que pensam somente neles, e em candidatos
amadores, desprovidos de qualquer capacidade administrativa,, como estamos
vivendo atualmente, para que nosso município tenha o seu lugar ao sol como
sonhado por todos os seus pioneiros.
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