Claira Ferreira é graduada em Jornalismo
pela FUNCEC e cursa licenciatura em Letras e Literaturas pela
UNINTER. Hoje comanda a Fundação Casa de Cultura de João Monlevade.
Durante um bom tempo foi responsável pela comunicação nas gestões dos
ex-prefeitos Carlos Moreira e Teófilo Torres, mas, há 4 anos pode dedica-se
exclusivamente à Cultura. Ela é casada e tem duas filhas.
MEDIOPIRA - Uma pergunta que eu sempre faço à quase todos: qual era o seu sonho de infância? Já sonhava em ser jornalista?
MEDIOPIRA - Uma pergunta que eu sempre faço à quase todos: qual era o seu sonho de infância? Já sonhava em ser jornalista?
Sempre
pensava na área de humanas, mas não no jornalismo. Já desejei direito, algumas
licenciaturas, Publicidade e Propaganda. Por uma questão de oportunidade,
quando a FUNCEC abriu o curso de Jornalismo decidi cursá-lo (sou da primeira
turma) e, após, complementar os estudos para a formação em Publicidade e
Propaganda. Acabei me apaixonando pelo Jornalismo.
Tenho
algumas habilidades... Gosto de trabalhos manuais, artesanato, já me arrisquei
no violão (hoje não toco nada), mas tenho uma sensibilidade aguçada para a
área.
MEDIOPIRA - Que tipo de músicas ouvia em sua
infância?
Meus
pais ouviam MPB, internacional romântico e sertanejo raiz. Confesso que não me
atraía. Gostava mais do pop rock (Skank, Jota Quest), rock(Legião, Engenheiros,
Paralamas, Titãs, RPM, Biquini Cavadão, Kid Abelha, Lulu Santos, Barão
Vermelho, Capital Inicial, Bon Jovi). Mas nunca tive preconceitos: ia a shows
sertanejos, pagode... Sempre bem eclética, né?!
MEDIOPIRA - Como é que foi o seu namoro com as
letras, com o jornalismo?
Como
disse, o Jornalismo veio para mim como uma questão de oportunidade, mas sempre
gostei muito de escrever, por isso essa paixão foi aflorada durante a
faculdade. Venho de uma família de 4 irmãos, sendo que cada um tem aptidão por
uma área distinta. Um é de exatas, outro de ciências naturais, a caçula é
médica e eu de humanas. Fiz normal (magistério) no segundo grau e,
recentemente, me despertou o desejo de cursar uma licenciatura. Não por acaso,
escolhi Letras e Literatura.
A belíssima Casa de Cultura cheia de arte e vida. |
MEDIOPIRA - A Fundação Cultural mantém hoje
diversas atividades, principalmente na transmissão de conhecimentos. Quais os
principais cursos são oferecidos pela fundação hoje?
Atualmente, a Casa de Cultura oferece 8 oficinas – pintura em tela,
pintura em tecido, artesanato, dança de salão, canto, violão, bateria e piano,
atendendo mais de 700 alunos. As aulas ocorrem de fevereiro a novembro e
culminam com uma grande Mostra de Talentos, onde parte destes alunos têm a
oportunidade de apresentar para a comunidade um pouco de que
aprenderam e/ou aperfeiçoaram durante o ano. Interessante ressaltar que a cada
ano mais pessoas procuram pelas nossa oficinas. Às vezes, saem de escolas
particulares e optam pela Fundação porque confiam e sabem da seriedade do nosso
trabalho. Então temos alunos de todas as idades (a partir de 8, até quase 90
anos) e classes sociais, o que é uma grande ganho nas nossas atividades. Recebemos
também pessoas com necessidades especiais (motoras, auditivas, visuais...),
além de um grande número de pacientes acometidos por transtornos mentais (leves
e moderados), que nos procuram voluntariamente ou encaminhados por clínicas e
profissionais da cidade. Isso nos confere uma grande responsabilidade, mas
também uma enorme satisfação. Quaisquer que sejam as motivações que levam as
pessoas a nos procurar, é sempre uma alegria enorme acompanhar a evolução
artística, cultural e pessoal dos nossos alunos. A Casa de Cultura é
privilegiada por ter um corpo profissional comprometido e dedicado às nossas
demandas. Isso nos possibilita atender a tanta gente, com qualidade.
MEDIOPIRA - Vocês conseguem identificar talentos
promissores na nova geração que está estudando artes na fundação?
Apoio da Prefeita Simone |
Muitos e
em todas as faixas etárias. Como disse acima, vários são os motivos que fazem
com que as pessoas procurem a Casa de Cultura. Algumas vêm, por exemplo, buscar
socialização nos cursos de pintura e artesanato e acabam encontrando uma fonte
de renda. A dança como forma de buscar mobilidade, equilíbrio, fortalecimento
da musculatura e descobrem-se grandes dançarinos que participam de concursos na
cidade. Nas oficinas de música, vêm buscando aprender um instrumento para tocar
na igreja ou mesmo para lazer e se juntam a outros alunos daqui e formam
bandas, aprendem a cantar, buscam aprender outros instrumentos... Como disse,
somos coroados, minha equipe e eu, com grandes surpresas e ficamos lisonjeados
com os talentos que daqui saem. E agradecemos à Administração Municipal, em
nome da Prefeita Simone Carvalho, por confiar no trabalho que e nos apoiar em
nossos projetos.
MEDIOPIRA - Quais os principais eventos promovidos
pela Fundação atualmente?
Parceiros para bons shows.. |
Não
vamos focar em eventos, mas em atividades, senão fica aquela eterna impressão
de que a Fundação Casa de Cultura é uma promotora de shows e esse não é o nosso
foco principal. Temos excelentes casas de shows e produtores de eventos em
nossa cidade e na nossa região que cumprem este papel de entretenimento. Além
das atividades da escola de artes, promovemos e apoiamos atividades culturais
durante todo o ano, que sejam do próprio município (de outras secretarias) ou
da comunidade em geral. Dos últimos anos até o presente momento, podemos citar
participação, entre apoios e realizações, apresentações de danças e musicais,
festivais gastronômicos, cavalgadas, carnaval do bloco Sapeca Iaiá, eventos
esportivos, educacionais, sociais, ambientais, de saúde, desfile de 7 de
setembro, dia da mulher, aniversário da cidade, bicentenário da chegada do Jean
Monlevade ao Brasil, ruas de lazer, Mostra de Talentos, encontro de
motociclistas, Festival de Inverno da UFOP, dentre outros). Também temos um
trabalho pouco conhecido, mas muito importante, que é o desenvolvimento das políticas
públicas voltadas para a preservação do patrimônio cultural de João Monlevade, que
engloba atividades como a Jornada do Patrimônio, educação patrimonial nas
comunidades e nas escolas, apoio às entidades culturais da cidade e proteção
dos bens tombados, registrados e inventariados no município.
MEDIOPIRA - O que os artistas precisam fazer para
serem contratados e participarem dos eventos promovidos pela fundação?
Precisam
se apresentar a nós, dizer que existem, que estão no mercado e que têm
interesse em se apresentar. Durante 4 anos, a Fundação Casa de Cultura integrou
o Núcleo Cultural Vieira Servas, instituído pela UFMG e pela AMEPI, que contava
com a participação de diversos municípios da região com o intuito de fortalecer
a cultura regional. Durante este período, surgiu uma ideia de se catalogar os
artistas das cidades que integravam o projeto, afim de se montar um banco de
dados para promoção e divulgação destes artistas. Para a nossa surpresa, a
adesão foi baixíssima, em todas as cidades. Em João Monlevade apenas 2 se
dirigiram à Fundação para deixar material. Trabalhar para o serviço público é
burocrático, às vezes trabalhoso e oneroso, pois requer a juntada de
documentos, recolhimento de impostos e isso, por vezes, afasta alguns possíveis
prestadores de serviços.
MEDIOPIRA - Como você analisa o cenário da música
hoje? Seu gosto é mais popular ou refinado? Mais pra funk, sertanejo e pagode
ou MPB, jazz e rock? Ou gosta de tudo um pouco?
Aprendendo com as filhas adolescentes. |
Gosto de
tudo um pouco. Tenho adolescente em casa e minhas filhas são loucas por música.
Acabo ouvindo muito o que elas ouvem, as modinhas do momento. Elas se
surpreendem quando me ouvem cantando alguma música que gostam, mas que, na
verdade, são “da minha época”, com uma nova roupagem dada por algum cantor ou
banda atual. Tento dar uma polida no que ouvem, porque temos algumas coisas
inapropriadas, mas no geral temos a liberdade de ouvir de tudo em casa.
Particularmente, gosto de MPB.
MEDIOPIRA - Monlevade tem muitas casas de shows,
que contratam artistas locais e da região, mas todos só cantando músicas de
artistas consagrados (covers). Não acha que faltam eventos para incentivar os
artistas autorais?
Acho
essa questão um pouco mais complexa. O brasileiro tem por hábito valorizar o
que vem de fora. Pagam-se absurdos para assistir apresentações de artistas
internacionais e reclamam do preço cobrado em bilheterias de shows nacionais. A
nossa cultura é pouco valorizada internamente e essa realidade bate à porta das
cidades de menor porte. Lembro-me de uma colega de uma cidade da região contar
que a dupla Victor e Leo era aparentada de um padre daquela paróquia e, antes
da fama, se apresentavam em todas as quermesses e promoções da igreja. O povo
já não podia ouvir falar em Victor e Leo. Hoje, ficam apertando a Prefeitura
para levar a dupla à cidade... Então, creio que essa será sempre uma situação
complicada enquanto não se educar os hábitos do brasileiros em valorizar o que
é da sua terra. Os artistas precisam levar público às suas apresentações, pois
vivem disso, e acabam se submetendo ao mercado de covers.
MEDIOPIRA - Existem projetos legais pra sair que
possa antecipar pra gente?
Muitos.
Infelizmente freados pela crise econômica. Mas temos uma novidade para as
próximas semana: o lançamento de um concurso que elegerá a música em
comemoração ao bicentenário da chegada de Jean Monlevade ao Brasil.
MEDIOPIRA - Ultimamente bons conteúdos foram
lançados sobre a história do fundador Jean Monlevade. Algumas solenidades
aconteceram e um selo comemorativo foi lançado sobre 200 anos da chegada de
Monlevade ao Brasil. Mas ainda assim achei que a repercussão foi pequena.
Parece que a cidade não deu tanta bola assim. Também foi essa a sua impressão?
Em
parceria com a Câmara Municipal e alguns ativistas e pesquisadores da
comunidade, ocorreram alguns projetos e atividades alusivos à data. Os mais
visíveis foram o lançamento do selo e o projeto de Educação Patrimonial que ocorreu
em cerca de 10 escolas da cidade (aquelas que aderiam ao projeto). Para este
ano, como encerramento, está previsto para o dia 14 de maio uma solenidade na
Câmara Municipal e ainda o concurso citado na pergunta anterior. Sabemos que a
ArcelorMittal também prepara para este ano um calendário de comemoração à data.
MEDIOPIRA - Existe alguma perspectiva da criação de
um Lei Municipal de Incentivo à Cultura?
Sim, há
conversas caminhando para esta possibilidade, mas ainda não temos previsão.
MEDIOPIRA - Qual seu grande sonho, seu grande
projeto nessa sua gestão frente a Fundação Casa de Cultura de João Monlevade?
São
muitos projetos que eu gostaria que saíssem do papel. A construção de um Centro
Cultural como a cidade precisa e merece talvez seja o maior deles. Agora,
falando de cultura como um todo, creio que afixação de orçamento mínimo em
favor da cultura, em âmbito nacional, seria um enorme ganho para a área.